JAGUARÉ: Em um momento marcado por alegrias e tristezas Dom Edivalter Andrade, Bispo da Diocese de Floriano-PI, trouxe ao povo jaguareense mensagens de empatia, consolo e esperança. Após uma Liturgia regrada de sentimentos o Epíscopo concedeu uma entrevista, ao Jornal O Conilon, onde contou um pouco destes quatro anos de novas vivencias na Diocese de Floriano e como tem sido cuidar do Povo de Deus neste período de Pandemia da Covid-19.
Jornal O Conilon: Em breve completaremos quatro anos de Dom Edivalter Andrade Bipo da Diocese de Floriano. Como tem sido este início de contato e já pastoreio do Povo de Deus.
Dom Edivalter Andrade: Posso dizer que ainda estamos no momento do conhecimento. Este um ano e meio de Pandemia interrompeu o trabalho de visita pastoral às 27 paróquias que compõem a Diocese de Floriano. Já estive em cada uma delas para festejos e crismas. Mas aquele processo de visita às comunidades, contato com as lideranças, padres e famílias ainda tenho que aprofundar. É um processo em desenvolvimento.
E do que que visitei percebi este grande desafio na Ação Evangelizadora da Igreja. Como na catequese das crianças, jovens e adolescentes, na formação do Povo de Deus, no trabalho pastoral com a juventude. Também percebi o desafio de estimular as comunidades a realziarem as celebrações dominicais quando não se tiver um padre. Isso é uma realidade muito diferente da Diocese de São Mateus que já tem este lindo costume de se celebrar nos domingos nas comunidades mesmo sem a presença do padre.
E na Diocese de Floriano temos esta realidade de dependência muito grande da figura do padre para as celebrações. O padre é muito solicitado para as encomendações, batismos, Eucaristia, as missas de corpo presente ou de sétimo dia. Temos uma pratica pastoral que ainda não é conjunta, orgânica. Estamos em processo.
Logo que cheguei propus na Diocese que pudéssemos iniciar os trabalhos em quatro comissões: uma voltada para a Ação Evangelizadora Catequese, uma para a Catequese, uma para o Dízimo-Partilha e outra para a ação Social. Constato que já houveram momentos de muito entusiasmo em trabalhos pastorais desenvolvidos anteriormente, inclusive com recursos vindos do exterior.
Agora este é o desafio: como manter estes trabalhos pastorais se estes recursos vindos do exterior que se tornaram raros ou até inexistentes. Hoje estas instituições estão muito mais criteriosas pois na Europa a perda de fieis acarreta na perda de recursos.
Ainda temos ainda uma realidade econômica e social em que muitos municípios da Diocese de Floriano possuem uma economia em até dependem até 90% da população vive unicamente de recursos provenientes de aposentadorias, benefícios de prestação continuada e programas de apoio governamental.
Isso cria uma difícil realidade pastoral. Um exemplo é nossa juventude que precisa deixar suas comunidades. Seja para trabalhar em grandes centros, ou outros estados, ou mesmo para estudar em Teresinha ou Floriano. Assim, muitas Paróquias até iniciam um trabalho pastoral com a juventude, que logo se esvai pois estes jovens não estão mais nas comunidades.
Jornal O Conilon: E como tem sido os momentos desta breve viagem a sua Diocese Mãe?
Dom Edivalter Andrade: Esta vinda se deve a circunstancias tristes e alegre. Uma para celebrar a ação de graça pelos 91 anos de vida meu pai. Não pudemos nos reunir no passado mas este vamos nos encontrar, com todos os cuidados. Mas também nos reuniremos em um momento de pesar e sofrimento. Há pouco tempo tivemos duas grandes perdas na família. Meu tio João, de 92 anos e meu irmão, Marcio Andrade, de 50 anos de idade. Professor, muito ativo nas Escola Família Agrícola. Ambos uma perda muito grande, ambos para a Covid.
Acrescento ainda a esta motivação a oportunidade de rever amigos, mesmo com esta limitações. Como disse na Celebração Eucarística, toda vinda é uma oportunidade de como voltar às fontes, às origens. É o reencontrar minha Igreja Mãe de São Mateus. Dela recebei o Batismo, a Eucaristia, o Crisma e pelas mãos de Dom Ado o Diaconato, o Presbitério e o ministério Episcopal. E neste ministério de Bispo tenho muita referência do que vivenciei em São Mateus. Me inspiro muito no jeito de ser Igreja de Dom Aldo, em seu jeito profético de trabalha com ‘este povo santo de Deus’.
E nesta nova missão levo comigo a experiência vivida na Diocese de São Mateus, de Vigário Geral, por meio do convite de Dom Paulo. Isso depois de ter sido Ecônomo, diretor de rádio e pároco. Tudo isso foi com uma preparação, sem que eu soubesse, para a missão que estou realizando agora.
Jornal O Conilon: Como tem sido o ser pastor neste momento difícil para nossa sociedade?
Dom Edivalter Andrade: É como a realidade do povo descrita pela Igreja em seu documento do Concílio Vaticano II. É uma realidade marcada por Alegrias e Esperanças, Angústias e Tristezas. E esta Ação Evangelizadora da Igreja ela não pode ignorar esta realidade. E isto se tornou ainda mais desafiador neste tempo de Pandemia.
Nossas liturgias, catequeses e encontros tiveram que ser suspensos. Nosso jeito de viver a fé é em comunidade e se encontrando para a Liturgia, os encontros de formação , mas fomos tendo que deixar tudo isso. Mas devagar estamos retomando.
Sabemos que temos pessoas angustiadas e desesperadas pelos riscos à saúde e da perda do emprego. Temos que encontrar os sinais da presença de Deus. Assim, trabalhamos para esclarecer que primeiro temos que saber que isso não é Projeto de Deus. Deus não quer ver o seu povo sofrendo e morrendo.
Deus deu ao ser humano a sabedoria, a ciência e com ela a responsabilidade de cuidar do meio ambiente, de cuidar da vida. Então nos encaramos com o problema que o Papa Francisco elenca como a autossuficiência de Deus, como o eu me basto. Assim, escolhas trazem consequências. Se opto por ações que são contra o Projeto de Deus, vão acontecendo consequências desta escolha. Não é castigo de Deus, mas consequências de escolhas muitas vezes egoístas.
Jornal O Conilon: Qual a mensagem que fica nesta data para Jaguaré?
Dom Edivalter Andrade: Deus sempre está ao lado de seu povo. E isso pode se dar até por meio da própria ciência. Nunca se produziu tão rápido uma vacina contra um mal. As ciências estão respondendo ao desafio. Ainda de se enfrenta um negacionismo sobre o que diz a ciência sobre os cuidados necessários para se evitar a proliferação e continuidade desta doença, mas estamos superando. O povo brasileiro está ansioso por esta vacina que ainda demora para chegar. Percebo com tristeza que isso é resultado de escolhas de quem governa o País. As vezes falta uma postura pela vida, de cuidado com as pessoas e no combate à Pandemia.
Apesar de tudo isso não podemos perder a esperança. Temos um Deus que nos ama. Um Deus que é pai e que sempre nos considera seus filhos e filhas e continua sempre nos iluminando. O Papa Francisco em suas orações e preces nesta Pandemia reflete que os recursos destinados ao armamento seriam mais que suficientes para suprir esta e outras Pandemias e problemas que tanto afligem os mais pobres.
Que não percamos a esperança, tenhamos fé e sejamos aliados de Deus nesta defesa da vida. Que Nossa Senhora interceda por nós e nos abençoe o Deus Pai, Filho e Espirito Santo.