ES: A produção de abacaxi no Espírito Santo concentra-se em 97% no litoral sul capixaba, onde predomina o plantio da cultivar Pérola, suscetível à fusariose, principal doença que limita o cultivo de abacaxi no Brasil. O abacaxizeiro é uma frutífera de grande importância econômica e social para o Estado, no entanto, a produção e o rendimento são baixos. Com o objetivo de melhorar a produtividade de abacaxi no Espírito Santo, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) está desenvolvendo um projeto para difundir tecnologias de cultivo.
Segundo estudos de zoneamento climático, praticamente todo o Espírito Santo tem condições climáticas ideais para o cultivo do abacaxi, com grande possibilidade de expansão do cultivo para a região norte capixaba. Com a utilização de tecnologias adequadas de cultivo, aliada ao fomento de mudas de cultivares resistentes e produtivas, é possível ampliar a área de produção de abacaxi e reduzir o uso de fungicidas.
O projeto denominado “Estratégias para a difusão de tecnologias para o cultivo do abacaxizeiro no Espírito Santo” foi contemplado pelo Banco de Projetos da Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Pesca (Seag) de 2020, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
De acordo com o coordenador do projeto e extensionista do Incaper, Ivanildo Schmith Kuster, o principal objetivo é fomentar o plantio da cultivar Vitória no Espírito Santo, especialmente no litoral norte e noroeste do Estado. O projeto visa a divulgar tecnologias de produção como o mulching, também conhecido como cultivo na lona; a fertirrigação e o controle da floração da cultivar.
“O abacaxi Vitória pode ser mais produtivo, ao mesmo tempo que exige um trato cultural adequado. Por isso, o projeto tem como objetivo orientar as tecnologias de produção para que a cultivar expresse todo seu potencial. Essas ações em conjunto têm o propósito de aumentar a produtividade e sustentabilidade da abacaxicultura capixaba”, disse Kuster.
O extensionista ressaltou que o projeto conta com uma grande rede de apoio de pesquisadores e extensionistas do Incaper, principalmente dos técnicos dos Escritórios Locais de Desenvolvimento Rural (ELDRs) de Boa Esperança, Sooretama e Mucurici.
Tecnologias aumentam produtividade do abacaxi
A execução do projeto tem o objetivo de promover a difusão das tecnologias de cultivo do abacaxizeiro como o plantio na lona (mulching) em sistema fertirrigado e manejo da floração. O uso de mulching e da fertirrigação melhora a eficiência da irrigação e da adubação, aumentando a eficiência do uso de água e dos nutrientes. A melhoria da eficiência do uso dos insumos também proporciona um impacto ambiental, uma vez que possibilita a redução nas aplicações de fertilizantes minerais e de irrigação, devido à maior eficiência de utilização.
A técnica do mulching é capaz de aumentar em até 30% a produtividade das lavouras e ainda reduzir os custos em até 50% com energia elétrica, água e período de irrigação. Com isso, tem-se um sistema mais eficiente e sustentável, com impactos econômicos e ambientais, com melhor aproveitamento de insumos e incremento na produtividade e qualidade dos frutos. Esse sistema foi validado para a cultivar Vitória, em solo capixaba, por meio da dissertação do Felipe de Tássio Gonçalves Oliveira, sob a orientação da pesquisadora do Incaper, Doutora Sara Dousseau Arantes, parceira do projeto.
Um dos grandes destaques do projeto é a integração com a pesquisa aplicada e o desenvolvimento para validar e difundir tecnologias estudadas e adaptadas para o Espírito Santo. As pesquisas anteriores foram conduzidas por uma equipe composta por pesquisadores e extensionistas do Incaper e de outras instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus de São Mateus.
O projeto difunde tecnologias de pesquisas conduzidas pelo pesquisador do Incaper, Doutor José Aires Ventura, que contribuiu para o lançamento da cultivar Vitória e pela pesquisadora Dra. Sara Dousseau Arantes, que desde 2013 tem conduzido projetos com a cultura do abacaxizeiro com apoio principalmente da Fapes.
“A irrigação e a adubação devem ser realizadas de acordo com o recomendado para a cultura do abacaxi. Por meio das pesquisas desenvolvidas, constatamos que a qualidade do fruto Vitória reduz mais que a do Pérola em condições de seca e escassez nutricional”, afirmou Sara Dousseau.
Metas propostas para o projeto
As metas propostas para o projeto são: instalar Unidades de Observação/Demonstrativas em três municípios do Espírito Santo, que abrangem a microrregião litoral norte (Mucurici e Sooretama) e Noroeste (Boa Esperança); efetuar a análise sensorial em no mínimo três estabelecimentos comerciais em cada município onde foram instaladas as Unidades de Observação; distribuir ao menos 5 mil mudas do abacaxizeiro cultivar Vitória; realizar um dia de campo para capacitação de técnicos e produtores rurais; e promover uma reunião para nivelamento das informações sobre o manejo do abacaxizeiro para técnicos e extensionistas visando à formação de agentes multiplicadores.
“Realizamos a implantação das unidades de observação nos três municípios, conforme as metas propostas. Vamos produzir as mudas de abacaxi Vitória para fazer a distribuição no próximo ano. Também em 2022, vamos desenvolver as outras metas do projeto, que está em sua fase inicial”, explicou Kuster.
Será desenvolvido ainda um estudo sobre a aceitação dos consumidores aos frutos das cultivares Pérola e Vitória nos mercados locais, a fim de auxiliar na estruturação da cadeia produtiva da cultivar Vitória. A possível abertura de novos mercados e a ampliação do conhecimento sobre cultivo possibilita a definição de estratégias de gestão da abacaxicultura. A pesquisa de mercado será conduzida em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical do Ceunes, conforme disse a pesquisadora do Incaper, Dra. Sara Dousseau.
“Nesse sentido, temos o objetivo de somar esforços para atender às demandas da cadeia produtiva do abacaxi, ampliando a área plantada e a produção com frutos de melhor qualidade para o mercado interno e de exportação”, completou Ivanildo.
Outros experimentos com abacaxi Vitória
No ano de 2006, foi lançada a cultivar Vitória de abacaxi, fruto da parceria entre Incaper e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que é resistente à fusariose e não possui espinhos nas folhas, possibilitando plantios mais adensados. Diversas ações integradas entre a Extensão Rural e a Pesquisa do Incaper foram desenvolvidas para a expansão da área de plantio com a cultivar Vitória foram executadas, principalmente, no norte e noroeste do Estado, incluindo a doação de mudas, capacitações e a instalação de unidades demonstrativas.
Uma dessas unidades demonstrativas foi mantida entre 2006 e 2014 por meio do trabalho efetivo de Assistência Técnica do ELDR do Incaper Boa Esperança, integrado ao trabalho de Pesquisa do Instituto. Foi observado o rendimento de 45.000 frutos por hectare no município, o que equivale ao dobro da média nacional. Tais resultados foram essenciais para a construção do projeto de difusão do cultivo de abacaxi no Espírito Santo.
Estudos sobre floração do abacaxi
O manejo da floração foi ajustado para a cultivar Vitória por meio da condução dos projetos “Manejo do abacaxizeiro cultivar Vitória e caracterização de novos genótipos visando à qualidade de frutos para o mercado interno e exportação” e “Controle do florescimento do abacaxizeiro visando à redução da sazonalidade da oferta de frutas”. Tais projetos foram coordenados pela pesquisadora Dra. Sara Dousseau Arantes, apoiados pela Fapes e com envolvimento de estudantes de mestrado.
“O controle da floração possibilita o escalonamento de produção é de sumo interesse para o desenvolvimento do polo de abacaxi no Estado do Espírito Santo, uma vez que viabiliza a redução do gargalo de produção ao deslocar as épocas de colheita para períodos mais favoráveis do ano, visando a atender as necessidades do produtor rural e do mercado. Desta forma, impacta diretamente no preço do abacaxi pago ao agricultor”, pontuou a pesquisadora.