VITÓRIA-JAGUARÉ: A Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo celebrou o Dia Estadual do Sistema Braille em uma sessão especial organizada pelo deputado Doutor Hércules. Na oportunidade a Casa recebeu, na última sexta-feira (08.04) representantes de organizações da sociedade civil voltadas para o segmento das pessoas com deficiência visual do estado e autoridades municipais e estaduais. O ex-prefeito de Jaguaré Evilázio Sartório Altoé e a UNICEJ foram homenageados como figuras de destaque pelos serviços prestados à comunidade cega e de baixa visão.
Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam que no Espírito Santo há cerca de 10 mil pessoas com deficiência visual total. Durante a solenidade, o Deputado Estadual, proponente da sessão. Doutor Hércules lembrou, ainda, que o professor José Álvares de Azevedo, jovem cego, voltando ao Brasil de estudos em Paris, incentivou o imperador D. Pedro II a trazer o sistema para o país. Destacando que a data de 08.04 faz alusão a data de nascimento do brasileiro.
Papel de destaque
O coordenador do Núcleo Otacílio Coser de Apoio às Organizações da Sociedade Civil, Carlos Ajur, lembrou que os cegos são “pessoas que não estão na escola, não estão no mercado de trabalho, que muitos não têm acesso à saúde, a seus documentos, que muitos não são informados de seus direitos”.
Em suas palavras Ajur contou que no final da década de 90 esteve em Jaguaré para tratar da importância da instalação de uma entidade de apoio a comunidade cega. “Desde o primeiro momento foi diferente porque fomos recebidos pelo Prefeito. Em menos de um mês tínhamos uma entidade com área de 600 metros quadrados. Um prédio construído e um caminhão de equipamentos doados pela Prefeitura de Jaguaré. Evilázio foi um grande parceiro de nossa comunidade cega e ora 10% dos prefeitos tivessem esta atitude não teríamos tantos cegos a margem de nossa sociedade” – frisou.
Durante o a homenagem o ex-prefeito de Jaguaré, Evilázio Altoé, agradeceu a então visita o amigo Carlos Ajur que mostrou para toda Jaguaré a demanda e a necessidade de ações. “Assim que vejo a responsabilidade do Poder Público e de quem está no poder: temos que olhar por aqueles que precisam de um apoio. Por aqueles que estão esquecidos no interior, nas casas. Foi desta forma que trabalhamos” – contou.
Os representantes a UNICEJ – Associação de Cegos de Jaguaré, o presidente Joel Moreira, e Elias Moreira foram homenageados e destacam a importância das ações de apoio para inserção dos cegos e das pessoas com baixa visão na sociedade.
Representando o Prefeito de Jaguaré, Marcos Guerra, o secretário Municipal de Planejamento, Robson Grobério, enfatizou o compromisso da municipalidade no desenvolvimento de políticas de apoio a comunidade cega e de baixa visão.
Associação de Deficientes Visuais de Jaguaré – UNICEJ – ADVJ
Associação de Deficientes Visuais de Jaguaré – UNICEJ – ADVJ tem em seus estatutos, que é uma associação civil, beneficente, com atuação nas áreas de assistência social, educação, saúde, prevenção, trabalho, profissionalização, defesa e garantia de direitos, esporte, cultura, lazer, estudo, pesquisa e outros, sem fins lucrativos ou de fins não econômicos, com duração indeterminada, e tem por missão promover e articular ações de defesa de direitos e prevenção, orientações, prestação de serviços, apoio à família, direcionadas à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência e à construção de uma sociedade justa e solidária. Estes trabalhos se iniciaram em 1998, ano de fundação da associação.
Defesa do Braille
O Dia do Sistema Braille, comemorado nesta sexta-feira (8), é muito importante, como ressaltou o presidente do Instituto Luiz Braille Manoel Peçanha Nascimento. Ele pediu que, apesar das tecnologias de hoje, os cegos valorizem mais o sistema. Nascimento, que é jornalista, disse que as tecnologias leem para o cego, mas ele não aprende a ler e a escrever.
“É através dele (do sistema Braille) que nós aprendemos a escrever. Sabe por quê? Os sistemas que falam, os computadores, os aplicativos, os leitores de tela, eles leem para você, mas não te dão condição, no momento da leitura, para saber como se escreve. Sendo assim, nós acabamos tendo vícios de leitura e encontramos dificuldades para assimilar (com dois esses, um só, com ´x’, como é essa história?). Podemos usar todas as tecnologias, mas devemos valorizar aquela que nos dá as condições e fundamenta as informações através do conhecimento, que é o sistema Braille”, defendeu Nascimento.
Reafirmando a ideia do presidente do Instituto Braille, “a difusão do conhecimento é fundamental”, disse o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Espírito Santo, Estanislau Tallon Bozi. Ele informou que o MPT tem uma biblioteca virtual e que suas obras também são encontradas na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e em áudio.
Reaprendizado
O presidente do Movimento Capixaba de Combate ao Glaucoma (Movig), Ésio Evandro Sampaio Meirelles, emocionado, relatou que ficou cego há pouco tempo, vítima do glaucoma, e contou sobre a superação que conquistou depois de conhecer alguns professores e militantes do segmento das pessoas com deficiência visual.
“Fui levar meu filho para uma aula de desenho no antigo CAP (Centro de Apoio Pedagógico à Pessoa com Deficiência Visual) e uma senhora de serviços gerais me perguntou por que eu andava segurando o braço de meu filho. Eu respondi: porque fiquei cego e não consigo andar sozinho. Você tem de andar sozinho, disse a senhora”.
Meirelles contou que aquela senhora simples o despertou, “acendeu uma luz para mim”. Ele tinha ido a um lugar onde funcionava um centro de apoio para as pessoas com deficiência visual, que ensinava a andar de bengala, a mexer com computador. Ali, disse, ele reaprendeu a andar e a ler.
Sistema Braille
O Código Braille de leitura tátil para cegos foi criado pelo francês Louis Braille, que adquiriu a deficiência visual aos três anos de idade. Aos 16 anos, em 1825, criou um sistema de leitura baseado em pontos em relevo. São seis pontos em duas colunas de três linhas que, combinados de 64 maneiras diferentes, representam letras, números, sinais de pontuação, acentuação, fonética, símbolos científicos, musicografia e informática.
Outros sistemas apareceram na mesma época, como o de Charles Barbier de La Serre, mas o Braille foi considerado o mais completo. O sistema foi adotado no Brasil, em 1843, pelo Instituto Benjamin Constant do Rio de Janeiro, à época, conhecido como Imperial Instituto dos Meninos Cegos.
No estado, em setembro de 1953, foi fundado o Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, em Vitória. A associação presta serviços de saúde, assistência social, intelectual e artística às pessoas cegas.
Mesa
Também participaram da mesa a assessora de educação especial da Secretaria Estadual de Educação (Sedu), Giovanne Silva Berger Tonoli, o ex-prefeito de Jaguaré, Evilázio Sartório Altoé; o presidente do Conselho Estadual de Educação, Artelírio Bolsanello; a presidente da Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo (Amaes), Pollyana Paraguassu; o presidente da União de Cegos Dom Pedro II, José Aprígio Barbosa; a presidente do Conselho Estadual de Assistência Social, Sandra Shirley de Almeida; o secretário de Planejamento de Jaguaré, Robson Grobério; o presidente da Associação de Cegos de Jaguaré, Joel Moreira; a representante da Comissão Brasileira de Braille e dos Centros de Apoio Pedagógico à Pessoa com Deficiência Visual (CAP) da Região Sudeste, Leoneida Ladeira Macedo; o diretor-geral do Instituto Federal do Espírito Santo, campus Vitória, Hudson Luiz Cogo; a diretora da Associação Colatinense de Deficientes Visuais, Maria do Socorro Santana Reinoso; a promotora do Ministério Público Estadual, Maria Cristina Rocha Pimentel; e o superintendente de Educação de Vila Velha, Gison Oliveira Soares.