BRASIL: Economistas, mercado e o próprio governo já esperavam, mas a confirmação de recuo da atividade econômica nos primeiros três meses veio como um banho de água fria nas perspectivas de retomada do país neste ano. Para além da frustração, o resultado de -0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, em comparação com o último de 2018, acendeu um outro alerta: o da possível volta da recessão.
Prova da vagarosa recuperação da economia, que acumulou um tombo de 8,1% nos 11 trimestres de recessão entre 2014 e 2016 e só avançou 1,1% a cada ano em 2017 e 2018, essa foi a primeira queda do PIB desde 2016. Para analistas, o resultado se deve sobretudo pelas incertezas políticas e econômicas desse início de governo, como a demora na reforma da Previdência.
Preocupado com esses sinais e temendo que só a reforma não seja suficiente para livrar o país da recessão (quando há dois trimestres seguidos no negativo), o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que o governo estuda liberar os saques de contas do Fundo de Garantia (FGTS) para aquecer a atividade econômica.
A ideia do governo seria liberar tanto contas inativas como também ativas, ou seja, ligadas ao emprego atual de quem está trabalhando. Guedes, que também confirmou que o governo vai liberar saques do PIS/Pasep independentemente da idade do beneficiário, disse que as medidas só poderão entrar em vigor após a aprovação da reforma da Previdência. Fonte próxima ao governo federal afirmou para A GAZETA que os critérios para o saque do FGTS estão sendo estudados, assim como a forma de rentabilidade.
INVESTIMENTOS
Segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE, que confirmaram as estimativas de muitos analistas de queda de -0,2%, o desempenho negativo teve outras influências, como a redução na produção de minério de ferro após a tragédia da barragem da Vale em Brumadinho (MG). Mas além dessa questão e do problema político, há outro ponto que economistas destacam como um grande problema: a recessão de investimentos.
No primeiro trimestre, o volume de investimentos caiu 1,7% em comparação com o último do ano passado, impulsionado em grande parte pelo desempenho também negativo de setores importantes da nossa economia, como a indústria (que teve queda de 0,7%) e o agronegócio (-0,2%).
“A dificuldade que o presidente vem tendo para encaminhar as reformas com mais velocidade trouxe uma incerteza muito grande para os investidores. Inseguros, eles seguram investimentos e, para que possam retomá-los, é preciso que hajam esses avanços”, analisa o economista e professor da UVV Mário Vasconcelos.
Para a economista e professora da Fucape Arilda Teixeira, o atual volume de investimentos é extremamente baixo para expandir a capacidade de produção da economia e que, sem a decisão de investimentos, é impossível o país ter um crescimento sustentável. “A reforma da Previdência é uma sinalização para dar essa segurança e, mais que isso, simboliza a chance do governo equacionar o desequilíbrio das contas públicas.”
Ambos os economistas têm preocupação com a liberação do FGTS como solução para estimular a economia. Para Mário, apesar de poder ser uma medida que aqueça o consumo, é preciso ter regras para que os trabalhadores não fiquem sem uma proteção financeira em casos como perda do emprego ou aposentadoria. Já Arilda vê a proposta como um desvirtuamento do fundo. “É um ativo do trabalhador para ampará-lo. Se ele puder retirar tudo, provavelmente irá gastar e ficar sem recurso nenhum. É tirar o objetivo do FGTS”, disse.(Gazetaon-line)